
Muraro (Heriberto Leandro Muraro)
Ao longo de décadas a fio, percorreu o Brasil de Santana do Livramento a Manaus tocando seu piano. Excursionou em seguida por Portugal, Espanha, França, Inglaterra e Itália tocando música brasileira. No Rio de Janeiro, atuou nas Rádios Mayrink Veiga, Nacional e Globo. Foi diretor da Rádio Nacional durante 18 anos tendo ajudado a projetar nomes como Dircinha Batista, Cyro Monteiro, Carlos Galhardo, Nélson Gonçalves, Olivinha Carvalho, Leonora Amar, Carmen Miranda, Aurora Miranda, Joel e Gaúcho, e Barbosa Júnior. Durante o tempo em que atuou na Rádio Nacional, fez um rodízio atuando também na Rádio Farroupilha de Porto Alegre e na Rádio Record de São Paulo. Tocou na Rádio Globo durante 6 anos. Em 1935, acompanhou ao piano a cantora Carmen Miranda na música “Primavera no Rio”, de João de Barro, número final do filme “Alô, alô, Brasil!”, com direção de Wallace Downey, e roteiro de João de Barro e Alberto Ribeiro. No mesmo ano, fez com Osvaldo Santiago o fox-canção “Céu na terra” que foi gravado por Moacir Bueno Rocha na Odeon. Em 1936, participou do filme “Alô, alô, carnaval”, com direção de Adhemar Gonzaga interpretando ao piano a música “Maria acorda que é dia”, de João de Barro e Alberto Ribeiro. Em 1938, fez com João de Barro e Alberto Ribeiro, a marcha “Barquinho pequenino” gravada na Odeon por Almirante. Nesse período, foi contratado pela gravadora Victor na qual lançou seu primeiro disco interpretando ao piano, em ritmo de fox, os sambas “O homem sem a mulher não vale nada”, de Arlindo Marques Junior e Roberto Roberti, e Meu consolo é você”, de Nássara e Roberto Martins. Ainda nesse ano, gravou em ritmo de fox a marcha “A jardineira”, de Benedito Lacerda e Humberto Porto, a modinha “Casinha pequenina”, de motivo popular com arranjos seus, e os sambas “Camisa amarela”, de Ary Barroso, e “É bom parar”, de Rubens Soares. Em 1940, lançou os fox “Eu não sei”, de Osvaldo Cossenza e Marques da Gama, e “Noites sem lua”, de Donga e David Nasser, e o tango-brasileiro “Carioca” e a valsa “Expansiva”, ambas de Ernesto Nazareth. Em 1941, sempre em ritmo de fox, gravou o choro “Carinhoso”, de Pixinguinha e João de Barro, o samba-canção “Um beijo na boca”, de Ciro de Souza e Augusto Garcez, e o samba “O bonde de São Januário”, de Ataulfo Alves e Wilson Batista. Em 1944, foi contratado pela gravadora Continental e no mesmo ano gravou o choro “Zangado” e o fox-trot “Meu tempo de criança”, de sua autoria, e em ritmo de fox “Melodias de Schubert”. No ano seguinte, também em ritmo de fox, registrou as composições “Frasquita” e “Viúva alegre”, de Franz Lehar. Em 1948, gravou as marchas “A mulata é a tal” e “Tem gato na tuba”, da dupla João de Barro e Alberto Ribeiro, e o samba “É com esse que eu vou”, de Pedro Caetano, em ritmo de fox, e o samba “Só pra chatear”, de Príncipe Pretinho, em ritmo de tango. Nessa altura, pelo sucesso de suas gravações em ritmo de fox passou a ser conhecido como “O Rei do fox”. Em 1950, assinou contrato com a gravadora Odeon, e em seu primeiro disco, gravou ao piano acompanhado de grande orquestra o samba “Linda flor”, de Henrique Vogeler e Luiz Peixoto, e o choro “Tico-tico no fubá”, de Zequinha de Abreu. No mesmo ano, gravou os choros “Flor do abacate”, Álvaro Sandim, “Ciganos do Brasil”, de Carlos Brandão, e “Moto perpétuo”, de sua autoria, o baião “Baião”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, e as partes I e II da sinfonia “O Guarani”, de Carlos Gomes. Em 1951, passou a gravar também no selo Elite Special lançando ao piano o “Mambo jambo”, de Perez Prado, em ritmo de baião, a coqueluche da época, e os choros “Curruira saltitante”, de Lina Pesce, “Apanhei-te cavaquinho” e “Debochando”, de Ernesto Nazareth, “Um baile em Catumbi”, de Eduardo Souto, e “Remelexo”, de Felisberto Martins. No mesmo ano, gravou pela Odeon o bolero “Cubanacan”, de M. Simons, o choro “Taratatá”, de sua autoria, o mambo “Mambo jambo”, de Perez Prado, e o choro “Portrait de Ernesto Nazareth”, de sua autoria. Ainda em 1951, atuou no programa “Um fio de melodia” na Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Em 1952, gravou os choros “Brejeiro”, de Ernesto Nazareth, “Viajando em Portugal” e “Flanando”, de sua autoria, e “Faísca”, de Lauro Maia e Penélope. Nesse ano, lançou pela Odeon a fantasia “Fantasia espanhola”, de sua autoria, partes I e II, o samba “Chopin no samba”, de sua autoria, e “La paloma”, de S. Yradier em ritmo de samba-choro. Gravou ainda, também na Odeon, de sua autoria o mambo “Mambo de concerto”, o fox “A canção da minha avozinha”, o baião “Baiumbá” e a polca “Teu dia chegará”, além da valda “O despertar da montanha”, de Eduardo Souto, e do tema folclórico “O pássaro campana”, com arranjos seus. Em 1953, gravou o noturno “Le Lac de Come”, de Galos, e o fox-trot “O cigano”, de Marcelo Tupinambá e João do Sul.
Em 1954, realizou uma temporada no Pará. Nessa época trabalhou como contratado da Rádio Globo. Nesse ano, lançou disco gravado dois anos antes contendo uma “Seleção de baiões”, de autoria de Joubert de Carvalho, Olegário Mariano, Mário Gennari Filho, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, além da canção “Maringá”, de Joubert de Carvalho, em ritmo de valsa. Ingressou pouco depois na RGE gravadora na qual lançou dois LPs em 1958. No primeiro, intitulado de “O incrível Muraro”, gravou obras de Catulo da Paixão Cearense e Ernesto Nazareth, sendo de Catulo da Paixão Cearense as músicas “Cabôca de Caxangá”, “Aruê aruá”, “Ontem ao luar”, com Pedro de Alcântara, ” Luar do sertão”, com João Pernambuco, “Nasci para te amar”, com Anacleto de Medeiros, e “Apollonia Pinto”, e de Ernesto Nazareth, as composiões “Beija-flor”, “Guerreiro”, “Vesper”, “Cruz perigo”, “Sagaz”, e “Pierrot”. O outro LP lançado no mesmo ano foi intitulado “Casinha pequenina”, disco no qual registrou seis obras de Chiquinha Gonzaga, “Forrobodó”, “Sultana”, “Phalena”, “São Paulo”, “Atraente”, e “Tambiquerere”, além de “Luar de Paquetá”, de Freire Júnior, “Le Lac de Come”, de G. Galos, “Recordando”, de J. Santos, “Casinha pequenina”, motivo popular com adaptação sua, “Tristeza de cachorro”, de sua autoria, e “Jira jira”, de Enrique Santos Discépolo. Afastou-se em seguida das gravações devido a doença. Retornou aos discos em 1962, quando lançou pela Odeon o LP “A volta de Murado” no qual interpretou “O bolero de Taia”, de Maria Clara Ferreira, “Deslisando”, de Lina Pesce, “A voz do violão”, de Francisco Alves e Horácio Campos, ” Ande à roda”, de Carlos Del Negro, “Ai mouraria”, de Amadeu do Vale e Frederico Valério, “Chopin no ano 1834”, “Jalapa”, “Cacoete”, e “Nossa Senhora da Conceição”, todas de sua autoria, além de “Vendedor de pássaros”, de Zeller, e “Só para crianças”, e “Pericón”, de domínio popular, essas três com adaptações suas. Em 1975, no LP “Fantásticos – vol. 4” da RCA Victor que incluiu gravações de diferentes intérpretes, foram incluídas três versões de sua autoria: “Torneró (Volte amor)”, de I. Polizzy, C. Natili, M. Ramoino e P. E. Palumbo, interpretada por Antônio Marcos e Vanusa, grande sucesso na época, “E viva o amor (Y viva España)”, de L. Caerts e L. Rozenstraetan, na interpretação da cantora Perla, e “O telefone chora (Le telephone pleure)”, de F. Thomas, C. François e J. P. Bourtayre, na voz de Márcio José. No ano seguinte, “Quando estou junto a ti”, uma versão sua para a música “Jader hat seine traume”, de Hoier, O’Brien, Docker e Heilburg, foi gravada por Carmen Silva em LP RCA Victor. Em 1977, “Ai não digas”, versão que fez para “Ay no digas”, de C. Montez e B. Meshel, foi gravada por Carmen Silva. No ano seguinte, “Uma garota e uma guitarra (Una muchacha y una guitarra)”, de Sandro e Anderle, com versão sua, foi registrada na RCA Victor pelo cantor Sandro. Em 1982, a versão que fez para a música “Desenlance”, de Charles Chaplin e Cleivan, foi gravada no LP “Amor secreto” lançado pelo cantor Ricardo Braga na RCA Victor. Em 1991, no LP independente “Chorando Callado – vol. 2”, que reuniu diversos artistas em homenagem ao pioneiro do choro Joaquim Callado, foi incluído o choro “Saudade do cavaquinho”, parceria com Pixinguinha. Teve carreira de destaque como pianista sobretudo, nas décadas de 1930, 1940 e 1950, quando gravou mais de trinta discos entre LPs e discos em 78 rpm pelas gravadoras RCA Victor, Continental, Odeon e RGE.