
João Pacífico (João Batista da Silva)
Sua carreira recebeu impulso através de seu encontro com Raul Torres, em 1933. O encontro possibilitou a formação de uma parceria fecunda. Em março de 1935, Raul Torres gravou o 78 rpm com a composição “Seu João Nogueira”, indicando o sucesso que estouraria com “Chico mulato” em 1936. Criou-se, ali, um novo estilo para a música sertaneja, a toada histórica, com versos declamados antes da cantoria. Segundo declarou Pacífico, posteriormente, as gravadoras resistiram àquele estilo, longo demais, porém, com o tempo, perceberam que o público gostava. Em 1936, mais duas músicas suas, em parceria com Raul Torres, foram gravadas: “Foi no romper da aurora”, na Odeon, por Torres e seu conjunto Embaixada, e “Chico Mulato”, na RCA Victor . Nessa , Pacífico fazia dueto vocal com Raul Torres. Gravou também no mesmo ano “Festa da bicharada”, de Raul Torres e Capitão Furtado, em que cantava e imitava sons de animais. Pacífico continuou compondo com Raul Torres. A dupla Torres e Serrinha lançou, em 1942, “No mourão da porteira”, em parceria com Raul Torres, pela Odeon, que se tornou um grande sucesso, trazendo-lhe diversas homenagens. Em 1947, começou a trabalhar no Banco Italo-Belga, já com diversas músicas gravadas. Continuando a compor, seria autor do sucesso “Tapera caída”, gravada por Luisinho e Limeira, em 1952, pela RCA Victor. Outros sucessos ocorreram como “Por teu olhar”(RCA Victor), em parceria com Raul Torres, gravado pelo próprio e Florêncio. Em 1954, Nélson Gonçalves gravou “Treze listas”, pela RCA Victor e Luizinho, Limeira e Zezinha registraram “Conselho de caboclo”. Em 1957, a toada “Minas Gerais”, em parceria com Raul Torres, foi gravada por Tonico e Tinoco. O LP “Cavalo zaino”, lançado em 1958 pela Chantecler pela dupla Raul Torres e Florêncio, revivia consagrados sucessos como “Pingo d’água”, de sua parceria com Raul Torres. Pacífico continuou produzindo sucessos gravados por muitas duplas. Na década de 1960, compôs, entre outros, “Coquetel de vida”, gravado por Maurici Moura em 1961, pela Chantecler. No ano seguinte a dupla Campanha e Cuiabano gravou “Rolinha cabocla”, parceria com Raul Torres. Moreno e Moreninho gravaram em 1964 pela CBS “Enquanto a estrela brilha”, composição também em parceria com Raul Torres. Em 1968, Marcelo Costa gravou “Progresso”, pela Odeon. Em 1970, João Pacífico foi homenageado com o LP “Pingo d’água”, que reuniu suas composições de maior sucesso, além de duas inéditas interpretadas pelo Duo Glacial, “A história de um prego” e “No banquinho”. O Duo Ciriema gravou pela Continental, em 1974, “Mensagem de esperança”, composição em parceria com o Capitão Furtado. Ao longo da carreira, João Pacífico manteve-se atento às questões gerais de seu tempo. Sua composição “Não deixem me poluir” expressaria a voz do Rio Tietê sofrido pelas conseqüências da industrialização. Apesar do talento reconhecido e de ter construído um amplo acervo e de suas músicas constituírem sucessos consagrados, não fez fortuna com a atividade artística. São inúmeras as referências à sua obra. Entre elas, frases de diversas personalidades do mundo artístico como: “Um compositor completo, que só fez música por fazer. É a consciência coletiva da cultura caipira” (Paulo Vanzolini); “Pacífico foi um dos compositores de maior sensibilidade que o Brasil já teve”, (Alarico Resende, pesquisador de música sertaneja). Deixou 1.450 composições, sendo 650 gravadas. Três delas com marcas recorde de gravações: “Chico Mulato” (30 gravações) ; “Cabocla Tereza” (40 gravações) ; “Pingo d’água” (60 gravações). Em 2002 teve a toada “Cabocla Tereza”, parceria com Raul Torres, regravada pelas Irmãs Galvão em CD lançado pela Chantecler. Nesse ano, a moda-de-viola “Doce de cidra” foi gravada pela dupla Mococa e Paraíso, no CD “Terra tombada e outros sucessos”, do selo Brasis. Ao lado de Raul Torres, João Pacífico compôs seus principais sucessos. “Chico Mulato”, de 1936, “Cabocla Tereza”, de 1937 e “Pingo d’agua”, de 1944.
Em 2005, o violonista Leandro Carvalho editou o “London poem” (Independente), obra com acompanhamento do Britton String Quintet e que abrange dois discos, um dedicado à obra de João Pacífico, que considera um baluarte da música caipira, e outro à obra do violonista João Pernambuco. A edição agrega ainda composições escritas em Londres por Tom Jobim, no final dos anos 1960, e, ainda, de Caetano Veloso, quando de seu exílio naquela cidade, no começo dos anos 1970, além de Villa Lobos. Em setembro de 2008, o programa “Viola, minha viola”, de Inezita Barroso, na TV Cultura de São Paulo, prestou-lhe homenagem em edição completa visitando sua obra. O evento contou com diversos expoentes da música caipira, entre eles, o violeiro Cláudio Lacerda, a dupla Mococa e Paraíso, que interpretou “Doce de cidra”; João Mulato e João Carvalho, “Rolinha cabocla”, parceria com Raul Torres e, finalizando, Inezita Barroso interpretou “Perto do coração”, também com Raul Torres. Em 2009, teve sua música, “Cabocla Tereza” (c/ Raul Torres), gravada pela dupla Fabrício e Fabian, no CD “Ontem e Hoje”. Em 2011, sua música “Tema novo” foi gravada pela dupla Otávio Augusto & Gabriel, que também a cantaram no programa “Viola, minha viola”, apresentado por Inezita Barroso, na TV Cultura.